João Santana, do Recife, especial para o Cotidiano Nacional
O término da votação de ontem pelo encaminhamento do processo de impeachment da senhora Presidente Dilma ‘Tchau Querida’ Rousseff guardou, para mim, um momento de reconciliação com o meu próprio passado.
Não nego que já fui marxista, convertido ainda adolescente depois do impeachment de Collor e filiado ao PCdoB desde 1999. Bruno Araújo tinha sido eleito deputado estadual um ano antes, e mantinha sua influência no movimento estudantil que àquela época era disputado palmo a palmo pelo PCdoB e pelo PSTU. Em alguns momentos recentes da história de Pernambuco acabamos por estar em lados opostos, como nas greves contra o Governo Jarbas Vasconcelos (1998-2006) e no Fora FHC. Nunca nos confrontamos no campo das ideias diretamente, mas sempre me opus aos seus posicionamentos nos lugares estudantis onde ele tinha alguma influência, e por várias vezes praguejei diante de alguma vitória do socialdemocrata, fosse na Alepe (Assembleia Legislativa de Pernambuco), fosse no movimento estudantil.
As contradições do marxismo me levaram à reflexão sobre suas virtudes e daí à leitura de alguns livros do Index Librorum Prohibitorum socialista, entre eles 1984 e Perestroika. O marxismo não era mais possível para mim depois disso e, buscando novos caminhos alinhados ao meu novo pensamento ideológico, já socialdemocrata na linha de Rosa Luxemburgo, encontrei abrigo onde menos esperava – no PSDB. Ali, enquanto me reacomodava ideologicamente, passei a observar melhor aqueles a quem taxei de adversários, entre eles, o já deputado federal Bruno Araújo. O ódio de antanho deu lugar ao respeito.
Não estou mais no PSDB (o ser político erra ao continuar defendendo politicamente ideias com as quais não mais concorda), e a socialdemocracia já passou, mas o respeito por Bruno Araújo e por outros políticos oposicionistas com quem tive a oportunidade de trocar duas palavras continua. Ontem, ao pronunciar seu voto a favor do encaminhamento ao Senado, o respeito tornou-se orgulho, por ter sido ele o deputado pernambucano a fechar a fatura.
O Brasil agradece, Bruno.
João ANTONIO Santana não é publicitário, mas gestor de recursos humanos, avôhai e escritor nas horas vagas